A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza o aleitamento materno exclusivo por pelo menos seis meses e complementar até que a criança complete dois anos. O tempo de oferta do leite materno exclusivo parece ter uma estreita relação com o desenvolvimento de alergias, já que nele estão presentes microorganismos e fatores imunitários envolvidos tanto no estímulo ao desenvolvimento da microbiota intestinal quanto no desenvolvimento da própria mucosa intestinal da criança, sendo, portanto, importante fator protetor contra o desenvolvimento destas atopias.
As alergias alimentares, que são dependentes de mecanismos imunitários, são caracterizadas por reação adversa aos alimentos, os quais tem seu potencial alergênico determinado pelo seu peso molecular, resistência ao calor e por enzimas proteolíticas.
Os principais alimentos causadores das alergias são: leite de vaca (β-lactoglobulina e α-lactoalbumina), ovo (ovoalbumina), peixe (parvalbuminas), frutos do mar (tropomiosinas), trigo (gliadinas) e amendoim (albuminas). Quando há uma exposição precoce desses alimentos, suas frações proteicas antigênicas serão mais absorvidas devido à imaturidade da mucosa intestinal da criança, principalmente por aquelas que não desfrutaram do aleitamento materno, conforme recomendação da OMS. A maturidade da mucosa intestinal geralmente é atingida por volta dos quatro anos de idade.
Os sintomas das alergias decorrem de diversos fatores, entre eles a localização do órgão ou o tipo de disseminação da proteína alergênica (sistêmica ou local). Estes sintomas podem afetar desde órgãos do trato gastrintestinal (diarréia, distensão abdominal) até órgãos do sistema respiratório (rinite, asma), pele (urticária) e sistema cardiovascular (choque anafilático), sendo que as reações de caráter anafilático são as que envolvem todos estes sistemas ou o agrupamento de alguns deles, podendo ter consequências fatais. Além disso, a alergia alimentar costuma se associar ao déficit de estatura/peso, já que a absorção adequada de alguns nutrientes torna-se impossibilitada, dificultando assim o crescimento e o ganho de peso adequados.
Por estes motivos, recomenda-se que a introdução da alimentação complementar seja feita após o sexto mês de vida. São recomendações da Academia Americana de Pediatria a introdução de leite de vaca, ovo, peixe e amendoim após o 1º, 2º e 3º anos, respectivamente. Vale ressaltar que é necessário considerar questões como regionalidade, disponibilidade dos alimentos e orientação feita durante o desmame ao se determinar o período de introdução destes alimentos e, caso seja constatada a alergia alimentar, o único tratamento eficaz é a retirada do alimento alergênico.