Garantir um bom
desenvolvimento durante a primeira infância (0 a 6 anos, conforme definido pelo
Ministério da Saúde – MS) diminui as chances de aparecimento de doenças crônicas
não transmissíveis na vida adulta. Colesterol, doenças cardíacas, obesidade,
diabete tipo 2, hipertensão e osteoporose são exemplos de enfermidades que podem
ser evitadas desde a gestação, conforme mostra um estudo do epidemiologista
inglês David Barker, com conclusões mundialmente reconhecidas pela comunidade
científica.
“Há mais de 20
anos, o doutor Barker partiu da hipótese de que crianças que nasciam com baixo
peso tinham mais infartos ou problemas do coração quando adultas. A partir daí,
ele levantou outra hipótese que mostrava que algumas doenças crônicas de adultos
tinham origem fetal”, explica o epidemiologista e coordenador nacional adjunto
da Pastoral da Criança Nelson Arns Neumann. “Já se sabe que as crianças que têm
algum tipo de sofrimento durante a gestação têm mais chance de desenvolver
alguns tipos de doenças na vida adulta.”
Algumas
justificativas para isso são velhas conhecidas: o uso de cigarros, drogas e
álcool durante a gravidez, pressão alta e diabete desenvolvidos pela mãe nesse
período. Outras são mais recentes, porém não menos prejudiciais, como a recusa
insensata da gestante em engordar – o que deixa o bebê subnutrido –, a
maternidade cada vez mais tardia e, principalmente, a antecipação do parto por
causa da cesárea.
De acordo com o
Ministério da Saúde, crianças que nascem duas semanas antes da data ideal têm
120 vezes mais chances de ter problemas respiratórios. Para Neumann, a
antecipação do parto sem necessidade representa erro ou incompetência médica.
“Existem casos em que você precisa fazer [o parto] antes, claro, mas em geral o
médico vai acompanhando dia a dia, deixa o maior tempo possível dentro da
barriga da mãe, porque, mesmo para a criança doente, a melhor UTI é dentro da
barriga da mãe”, salienta.
Primeiros
anos
Apesar de
decisiva, a vida intrauterina não é a única que define o surgimento das doenças.
Mesmo após o parto, durante os primeiros anos da criança, os pais precisam ficar
atentos ao desenvolvimento dos filhos para evitar problemas futuros. Segundo o
pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Pediatra, Eduardo Vaz,
negligenciar essa fase, além de contribuir para o desenvolvimento das doenças
crônicas não transmissíveis também pode causar deficiência neuronal. “Crianças
com menos suporte têm a região do hipocampo [responsável, sobretudo, pelas
funções relacionadas à memória] diminuído, e isso faz com que elas fiquem mais
sujeitas a transtornos de depressão e ansiedade quando se tornarem
adolescentes”, completa.
Apego, atenção e afetividade são essenciais
Contribuir para
uma evolução saudável durante a primeira infância requer mais do que manter
rotinas de cuidados com a saúde. Para o professor do curso de Psicologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em desenvolvimento
infantil Mauro Luís Vieira, apego, atenção e afetividade são essenciais. “A
criança precisa da vinculação, e nada vai substituir a atenção dos pais. Como a
maioria dos pais e mães trabalha fora, os poucos momentos que passam com a
criança têm de ser intensivos, para que haja afetividade”, explica.
Além disso, o
período inicial da vida molda o comportamento da criança. É nessa época que os
pais precisam encarar a responsabilidade de impor limites. Segundo Vieira, esse
é um grande problema da família atual, uma vez que vários pais e mães não têm
ideia das consequências que pode causar a falta do “pulso firme” e não sabem
como lidar com a situação adequadamente.
Medo
De acordo com o
pediatra do Hospital Pequeno Príncipe Cícero Kluppel, a falta de imposição, que
pode ser nociva para o desenvolvimento dos filhos, acontece muitas vezes porque
a família tem medo de reprimir a criança. “Saímos de uma fase em que o limite
era extremo e fomos para uma geração em que se permite tudo. Essa geração não
está conseguindo colocar limites por medo de estar passando da conta”,
explica.
No entanto, o
pediatra ressalta que o limite não deve ser desconsiderado quando o assunto é
comportamento, pois tal atitude traz segurança para a própria criança. “Quando
há rotina, que é um tipo de limite, o filho passa a se sentir seguro porque sabe
o que vai acontecer. Sem rotina, a criança vai criar mecanismos para chamar a
atenção, vai agir com birra exacerbada.”
Fonte e
reportagem completa: GAZETA DO POVO.Marque uma consulta com a nossa nutricionista especialista em nutrição materno infantil, Ana Carolina Terrazzan. Fone: (51) 3361.4012